O roteiro "A Coimbra de Zeca Afonso" leva-nos por uma cidade cheia de memórias e simbolismo, onde o cantor e poeta viveu alguns dos momentos mais marcantes da sua vida. Coimbra não foi apenas o seu espaço académico, mas também o lugar onde cresceu artisticamente, encontrou amigos, amores e consolidou a sua consciência política.
A viagem começa na Tertúlia do Calhabé. Foi aqui que Zeca Afonso começou a afirmar-se no universo da Canção de Coimbra, ao lado de nomes como António Portugal e Luiz Goes. O grupo gravou os seus primeiros discos no Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional, onde, entre 1952 e 1953, registaram temas como Contos Velhinhos e Fado das Águias, lançados pela etiqueta Melodia.
Antes de Coimbra, Zeca Afonso viveu um período em Belmonte, mas em 1940 veio estudar para a cidade e instalou-se na Casa da Tia Avrilete, uma senhora devota que acolheu o jovem estudante. Foi neste período que conheceu Maria Amália de Oliveira, uma jovem humilde vinda de Mortágua para aprender costura, com quem viria a casar anos mais tarde. O seu percurso académico desenrolou-se no Liceu D. João III (atual Escola Secundária José Falcão), onde começou a cantar serenatas e se destacou como "bicho-cantor", escapando assim às habituais rapadelas impostas pelas trupes.
No verão de 1953, Zeca foi incorporado na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, e no início do ano seguinte foi colocado como Aspirante a Oficial Miliciano no Quartel de Infantaria N.º 12, em Coimbra. No entanto, uma hepatite grave levou-o ao internamento no Hospital Militar da Estrela, impedindo a sua mobilização para Macau. Apesar do seu percurso militar, o espírito de Zeca sempre esteve mais ligado ao desporto do que à caserna, tendo jogado na equipa B dos juniores da Académica de Coimbra, a sua amada Briosa, no Campo de Santa Cruz.
A relação de Zeca com Coimbra foi muito além dos estudos. A cidade inspirou-o, com a sua boémia e as tradições académicas. Viveu intensamente as Repúblicas de Coimbra, frequentando várias ao longo dos anos, como a Real República Palácio da Loucura, a República dos Galifões, os Corsários das Ilhas, a Bota-Abaixo, a Ay-Ó-Linda, a do Pra-Kys-Tão e os Kágados. Nestes espaços partilhou refeições, debates políticos e noites intermináveis de convívio e música. Foi também na Faculdade de Letras que aprofundou os seus estudos, licenciando-se em Ciências Histórico-Filosóficas com uma tese sobre Jean-Paul Sartre. Foi neste ambiente que rompeu definitivamente com a guitarra de Coimbra, gravando Minha Mãe e Balada de Aleixo para a editora Monitor, consolidando o seu percurso de renovação da música portuguesa.
Após o casamento com Maria Amália, o casal morou em casas modestas, primeiro na Casa da Família Peixoto, onde Zeca teve contacto com a vasta biblioteca de Jorge Peixoto e consolidou a sua paixão pela literatura, e depois na Casa de Zeca Afonso, já com o primeiro filho a caminho. Durante este período, sustentava-se dando explicações e fazendo revisão de textos no Diário de Coimbra.
O espírito combativo e inconformista de Zeca manifestou-se em diversas ocasiões, nomeadamente durante as crises académicas. Nos Jardins da A.A.C., participou em várias Reuniões Gerais de Alunos e, em 1968, nas Jornadas da Tomada da Bastilha. Os cafés também foram espaços importantes de encontro e tertúlia, como o Café Oásis, frequentado por estudantes opositores do regime, e o Café Montanha, onde se reunia com amigos e músicos como José Niza e António Portugal.
Coimbra nunca esqueceu o seu trovador da liberdade. Em 1983, no Parque de Santa Cruz / Jardim da Sereia, durante as III Jornadas de Cultura Popular, Zeca Afonso recebeu a Medalha de Ouro da Cidade, um reconhecimento pelo seu contributo cultural e cívico. Emocionado, afirmou: "Não quero converter-me numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem." Mais tarde, em 2001, a cidade eternizou a sua ligação ao espírito revolucionário com o Monumento ao 25 de Abril, uma homenagem ao homem cuja voz marcou indelevelmente a história da democracia portuguesa.
O roteiro “A Coimbra de Zeca Afonso” não é apenas um percurso por lugares, mas uma imersão na vida de um dos maiores símbolos da música e da liberdade em Portugal. Coimbra foi o berço da sua formação artística, política e humana, deixando-lhe marcas que perduraram até ao fim da sua vida.
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